Na vertigem que é a visão que o espelho me devolve, penso no que já não reconhecerias, em mim e nos meus escombros, se os nossos olhares voltassem a cruzar-se como antes.
Nos cabelos brancos que já quase me cobrem grande parte da cabeça, mas que pinto porque não gosto de me ver velha.
Nos olhos, que para ti sempre foram cinzentos ou azuis, conforme os desejos da cor do céu, e que hoje em dia todos teimam em dizer-me que são verdes. E que já não vêem longe como dantes, e que são tristes, e têm já algumas rugas, e já não brilham, e que perderam a conta às lágrimas que choraram por ti. Talvez seja também por isso que perderam a cor, que desbotou como a da roupa ao fim de muitas lavagens, não resistindo aos imensos dilúvios que me inundaram os dias.
As contas que faço aos anos que passaram assustam-me.
As contas que faço aos anos que faltam assustam-me ainda mais.
E a vida continuou sem ti, e envelheço sem ti, e vejo-me ao espelho, não todos os dias, mas há dias em que penso no que dirias e se continuarias a achar-me bonita.
Não que isso importe.
É feia a cicatriz que o espelho me devolve, juntamente com outras mais insignificantes, por trás da imagem que me compõe.
E dou por mim a pensar que ninguém devia morrer assim para ninguém.
"Rita - in my pocket"
Fonte: http://in-my-pocket.blogspot.com
SIMPLESMEMNTE MARAVILHOSO SEU TRABALHO!
ResponderExcluirPASSEI PARA AGRADECER A SUA VISITA LÁ NO MEU MUNDO E DESEJAR UM ANO NOVO CHEIO DE REALIZAÇÕES.BEIJOCAS